Anton Hellinger nasceu numa família católica e aos 10 anos ingressou numa escola-monastério onde mais tarde se formaria padre e se tornaria missionário. Após ter combatido na 2ª grande guerra, Bert retornou à Alemanha e estudou filosofia e teologia. Foi ordenado padre e enviado como missionário à Àfrica do Sul, sob o nome de Suitbert, para trabalhar com as tribos Zulus.
Na África, teve oportunidade de continuar seus estudos e formou-se em educação, vindo a se tornar professor, diretor de escola e, ao final de sua jornada, estava responsável por uma diocese onde capitaneava 150 escolas públicas.
Nos 16 anos que passou na África, Hellinger participou de incontáveis dinâmicas de grupo, treinamentos e eventos tanto ecumênicos quanto interraciais, organizados por clérigos anglicanos que já trabalhavam sob orientação fenomenológica. Hellinger ficava admirado de como os treinadores eram preocupados em reconhecer as diferenças que havia na essência da diversidade local, lidando com elas sem medo, sem intenções, sem pré-conceitos, baseando-se apenas no que do grupo emergia. Era o começo do interesse de BH por dinâmicas de grupo e fenomenologia.
Hellinger acabou se desligando do sacerdócio e retornando à Alemanha para estudar. Iniciou seus estudos em Psicanálise na Associação Vienense de Psicologia Profunda e depois completou sua formação no Instituto de Formação Psicoanalítica de Muniche. Passou alguns anos estudando com diversos profissionais como Eric Berne da Análise do Script, que se baseia nos padrões encontrados nos contos de fadas e histórias infantis e que se avizinhavam da dimensão sistêmica. A seguir mergulhou na Terapia Primal, onde também deparou-se com a dimensão sistêmica dos sentimentos e dos destinos funestos, submetendo-se a um tratamento com Arthur Janov nos EUA, onde diz ele, aprendeu a forma de lidar com as emoções.
De volta à Alemanha, trabalhou por bastante tempo com esse modelo terapêutico e foram precisos mais dez anos pra que começasse a estudar terapia familiar. Participou então de seminários com Ruth McClendon e Les Kadis, depois com Thea Schonfelder e, já nos idos de 1980, Hellinger, através sempre da observação das relações humanas dentro dos sistemas familiares, se deu conta de que, assim como na natureza, há princípios muito simples, aos quais ele chama de ordens, que são universais e que afetam os sistemas familiares. Tais ordens regem as relações entre seus membros e, no caso da família, se baseiam ou se ancoram sempre nas leis do amor.
Cabe complementar aqui que enquanto dinâmica de grupo, o método das CF foi precedido de algumas escolas e experiências importantes de outros profissionais da área. Como nos explicita Ursula Franke, psicoterapeuta clínica e consteladora, em seu livro El rio nunca mira atrás (8), entre elas está o psicodrama, uma forma de psicoterapia baseada na representação de papéis, criada por Jacob Levy Moreno (1889/1974), romeno, médico, psiquiatra, sociólogo e teatrólogo.
Outro trabalho que precedeu às CF é o de Virgina Satir (1916/1988), americana, educadora infantil, assistente social e terapeuta, criadora da reconstrução familiar e outras técnicas terapêuticas que permitiam ao cliente fazer descobertas sobre suas famílias e raízes psicológicas. Considerada a mãe da terapia familiar, Satir empregava suas técnicas tanto para casais, quanto para famílias e grupos. O terceiro trabalho citado por Franke como antecedente às CF é o de Ivan Boszormenyi-Nagy (1920/2007), húngaro-americano, psiquiatra, psicoterapeuta e terapeuta familiar, criador da terapia contextual. Boszormenyi-Nagy estudou milhares de famílias e chegou à conclusão que suas relações estão pautadas numa dinâmica ética existencial profunda. A tais conexões, que não podem ser reconhecidas na superfície, Boszormenyi-Nagy deu o nome de lealdades invisíveis e verificou que as bases que as sustentam são a lealdade, o equilíbrio, o mérito e o direito.
Como nos elucida Franke, todas essas técnicas se conectam ao método das CF através de suas origens filosóficas. O que difere a aplicação das CF de Hellinger, é que essas se encontram na categoria das terapias breves, dado que a solução pode ser dada num curto período de tempo. A CF não só representa uma evolução nas dinâmicas terapêuticas em grupo como também uma espécie de sincretismo de tudo que veio antes. Sem contar o fato de que se adequa muito bem ao mundo atribulado de hoje, em que não só necessitamos resolver problemas de modo prático e accessível, como também precisamos de eficiência e resultado.
Pude atestar não só em mim mesma, que já participo dessas dinâmicas há mais de uma década, como em muitos clientes que encaminhei a outros consteladores, a excelência das CF em solucionar emaranhados sistêmicos. Isso não invalida de maneira alguma a eficácia de outros métodos ou técnicas terapêuticas que trabalhem de forma individual. Há muitos indivíduos que os necessitam, assim como outros tantos que desejam, desenvolver um processo terapêutico em busca de sua individuação. E é possível aplicar o método das CF de forma individual, lançando mão de bonecos ou outros símbolos, que são utilizados para representar os membros de qualquer comunidade, prática a qual venho me dedicando.
Gostaria de pontuar duas características que me fascinam no trabalho de BH com as CF. A primeira é a simplicidade e a naturalidade presentes na abordagem, que farão com que se compreenda a organicidade, as leis e as ordens do amor presentes num sistema familiar também de forma simples, natural e fluente; ou não. A outra é a questão fenomenológica que norteia as CF, assunto que trataremos em outro artigo.